Sentença favorável aos artistas determina pagamento de direitos em processo contra a SIC e TVI

Decisão judicial, após 17 anos, reforça a valorização do trabalho artístico e o cumprimento das determinações do Supremo Tribunal de Justiça

A GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas – comunica a decisão favorável aos artistas proferida no processo referente ao período de setembro de 2004 a dezembro de 2016, envolvendo a SIC e a TVI. Esta sentença, resultante do cumprimento de um acórdão anteriormente estabelecido pelo Supremo Tribunal de Justiça, reforça o reconhecimento e defesa dos direitos dos artistas representados pela GDA, ao assegurar a necessária justa remuneração pela utilização de prestações artísticas protegidas.

As estações de televisão desempenham um papel essencial na vida cultural e social, motivo pelo qual interpretamos este desfecho como uma oportunidade para fortalecer e normalizar a relação entre a GDA e os operadores televisivos, em consonância com modelos já consolidados noutros países europeus. Trata-se de um avanço que sublinha a importância dos artistas na valorização da cultura e no adequado reconhecimento da sua contribuição criativa, económica e social.

A presente decisão permitiu determinar, com rigor, o número de minutos de obras que incluem prestações artísticas protegidas, os quais deverão ser objeto de pagamento aos artistas. Este número, quando associado ao valor por minuto já definido pela instância superior, possibilita estabelecer o montante total a liquidar.

Os próximos desafios centram-se na cobrança dos montantes devidos e na sua subsequente distribuição aos artistas. Paralelamente, a GDA continuará a trabalhar no reconhecimento e cobrança de direitos em períodos posteriores, nomeadamente entre 2016 e 2024 no caso da SIC e da TVI, e de 2004 a 2024 no caso da RTP.

Exortamos todos os membros e cooperadores da GDA a manterem os respetivos dados atualizados no Portal GDA e a procederem à declaração das suas participações artísticas protegidas, em particular aqueles abrangidos pelo período de 2004 a 2016.

A GDA representa em Portugal mais de um milhão de artistas, incluindo cerca de 18.000 de forma direta e os demais por meio de acordos com entidades congéneres de vários países. Esta conquista reforça o nosso compromisso com a justiça, a dignificação do trabalho artístico e a defesa dos direitos conexos, constituindo mais um passo firme na consolidação de um ecossistema cultural justo, equilibrado e sustentável.

GDA quer ser ouvida pelo Governo antes da transposição da Diretiva MUD

A Diretiva do Mercado Único Digital – com que a União Europeia impõe que o “streaming” de música e de audiovisual seja um rendimento justo para intérpretes e executantes – está atrasada mais de um ano em Portugal. Agora, tem de ser transposta em dois meses! Para os artistas portugueses, a proposta do anterior Governo “trai por completo” o espírito da Diretiva europeia. Apelam ao novo ministro da Cultura que “não os exclua do mercado digital!”

A GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas apela ao novo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e aos deputados da Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, para que oiçam os artistas nacionais antes de transporem para Portugal a diretiva europeia dos direitos de autor e direitos conexos para o Mercado Único Digital (MUD). Segundo a GDA – a entidade que gere em Portugal os direitos de propriedade intelectual de atores, bailarinos e músicos – a proposta herdada do anterior Governo “exclui os artistas portugueses do Mercado Único Digital, impedindo-os de receberem um pagamento justo pela utilização online das suas obras”, razão pela qual “não pode servir de base à transposição da diretiva.”

A urgência deste apelo prende-se com a notificação por Bruxelas, no passado dia 19 de maio, de “pareceres fundamentados” no âmbito do processo de infração movido a Portugal por ainda não ter transposto a Diretiva MUD aprovada em 2019 pelo Parlamento Europeu e pela Comissão Europeia. A notificação da semana passada obriga, agora, a que o Governo e o Parlamento portugueses tenham de fazer em apenas dois meses a transposição para a ordem jurídica nacional dessa legislação europeia que procura garantir que a exploração online – nomeadamente o “streaming” das obras musicais e audiovisuais – seja uma fonte de rendimento justa e proporcionada para todos os artistas, intérpretes e executantes titulares de direitos.

“A GDA apela ao ministro Pedro Adão e Silva e aos deputados que a transposição da Diretiva MUD garanta duas coisas simples: que os artistas que hoje recebem pouco pela utilização online das suas obras passem a receber mais, de uma forma justa e proporcionada; e que a maioria dos artistas, que nada recebe, passe a receber direitos sempre que as obras em que participa gerem receitas no online”, afirma Pedro Wallenstein, presidente da GDA.

“Ora, o texto que o anterior Governo deixou em 2021 na Assembleia da República não garante nada disso. Pelo contrário! Trai completamente o espírito da Diretiva e quer perpetuar em Portugal o atual desequilíbrio em desfavor dos artistas, não só ignorando todos os contributos e propostas atempadamente apresentadas pela GDA, como até eliminando completamente do articulado a expressão “artistas, intérpretes ou executantes”, excluindo-os na prática do Mercado Único Digital”, sublinha Pedro Wallenstein.

Já no início de abril, quando o Governo tomou posse, a GDA escreveu uma carta ao novo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, pedindo-lhe que a transposição da Diretiva MUD para a lei portuguesa respeitasse os propósitos políticos de justiça e de equidade que estiveram no espírito dos deputados e dos comissários europeus.

“O negócio streaming, tal como está, é injusto para os artistas!”

“O Parlamento Europeu e a Comissão Europeia legislaram precisamente para tornar equilibrada e minimamente justa a repartição das receitas do mercado digital”, recorda Pedro Wallenstein. E chama a atenção para o exemplo da França, a qual, no dia 12 deste mês, anunciou um ‘acordo histórico’ entre as organizações de artistas intérpretes e os produtores fonográficos no mercado streaming francês, “garantindo, não só uma remuneração aos artistas, como passou a incluir os artistas executantes, pela primeira vez na história, na repartição das receitas online”.

Este acordo em França (ver comunicado da ADAMI aqui) prova, para o presidente da GDA, uma coisa clara: “O negócio streaming, tal como está – com uma média de apenas 10% das receitas online para os artistas, ficando as editoras com cerca de 60% do dinheiro e as plataformas com perto de 30% – é profundamente mau e terrivelmente injusto para os artistas!”

Entretanto, também a Bélgica se prepara para a aprovação, no respetivo Parlamento, de uma solução que estabelece uma remuneração irrenunciável, a ser cobrada pelas entidades de gestão dos direitos dos artistas que garante uma remuneração justa e equitativa para a exploração digital de obras musicais e audiovisuais.

Por isso, conclui Pedro Wallenstein, a proposta do anterior Governo que está na Assembleia da República “deixa tudo na mesma, traindo totalmente os propósitos da Diretiva MUD: não é uma base aceitável para fazer a transposição da diretiva em Portugal!”

GDA apela ao Governo para não excluir os artistas das receitas do “streaming”

“Os artistas portugueses que hoje recebem pouco pela utilização online das suas obras devem passar a receber mais; e a maioria dos artistas, que nada recebe, deve passar a receber direitos sempre que as obras em que participa gerem receitas no online”. Estes são os pontos centrais da carta que os representantes dos atores, bailarinos e músicos enviaram ao novo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, sobre a transposição para Portugal da Diretiva do Mercado Único Digital. “A opção política terá de respeitar os propósitos de justiça do Parlamento Europeu”, afirma o presidente da GDA, Pedro Wallenstein.

A GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas dirigiu esta semana um apelo ao novo Governo para que, na legislatura que agora se inicia, “não excluam os artistas portugueses do Mercado Único Digital” (MUD), impedindo-os de receberem um pagamento justo pela utilização online das suas obras. A GDA alerta o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, para o que está em causa na transposição da diretiva europeia dos direitos de autor e direitos conexos – a Diretiva MUD – para a ordem jurídica portuguesa, a qual tem mais de um ano de atraso.

A GDA – expressou em outubro 2021 a sua discordância quanto à Proposta de Lei apresentada pela ex-ministra da Cultura Graça Fonseca à Assembleia da República.  O texto proposto nessa altura omitia os pontos da Diretiva MUD em que o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia procuraram garantir que a exploração online, nomeadamente o “streaming” das obras musicais e audiovisuais, seja uma fonte de rendimento justa e proporcionada para todos os artistas, intérpretes e executantes titulares de direitos.

“Este novo ciclo político é uma boa oportunidade para tratar de um tema fundamental para as sociedades contemporâneas: o acesso aos bens culturais e a retribuição justa dos que intervêm na sua produção, a começar pelos artistas”, afirma Pedro Wallenstein, presidente da GDA. “Os artistas, em Portugal e em todo o mundo, estão cada vez mais dependentes do mercado digital: se a lei a aprovar não garantir a sua justa remuneração, estes ficarão condenados para o futuro”.

A Diretiva MUD foi a resposta que o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia encontraram para o problema da distribuição muito desigual das receitas geradas pela utilização online de obras artísticas, nomeadamente musicais: 30% das receitas ficam em plataformas de “streaming” como a Spotify, a Apple Music, a Amazon ou a Deezer; em média 60% das receitas são entregues às editoras, cujas maiores são a Sony, a Universal e a Warner; e apenas cerca de 10% é entregue aos artistas.

“A GDA apela ao Governo que, ao propor à Assembleia da República a transposição da Diretiva MUD, garanta duas coisas simples: que os artistas que hoje recebem pouco pela utilização online das suas obras passem a receber mais, de uma forma justa e proporcionada; e que a maioria dos artistas, que nada recebe, passe a receber direitos sempre que as obras em que participa gerem receitas no online”, afirma Pedro Wallenstein. Para o presidente da GDA, uma boa transposição para a lei portuguesa deverá respeitar os propósitos políticos de justiça e de equidade que estiveram no espírito dos deputados e dos comissários europeus.

“O Parlamento Europeu e a Comissão Europeia legislaram, precisamente, para tornar equilibrada e minimamente justa a repartição das receitas do mercado digital”, sublinha Pedro Wallenstein. “Se a transposição não for justa e leal, a lei portuguesa perpetuará neste país o desequilíbrio atual em desfavor dos artistas, excluindo-os do Mercado Único Digital”.

O texto original da Diretiva MUD afirma que “os autores e artistas intérpretes ou executantes costumam estar numa posição contratual mais fraca quando concedem uma licença ou transferem os seus direitos”. Por isso mesmo, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia entendem que “a diretiva deverá prever a proteção dessas pessoas singulares para que as mesmas possam beneficiar plenamente dos direitos harmonizados por força do direito da União”.

Pensar os direitos em tempos de mudança

Neste número da nossa Newsletter, damos início a uma série de artigos de opinião, assinados por responsáveis de sociedades de gestão congéneres da GDA. O convidado desta edição é Abel Martín Villarejo, advogado e diretor geral da AISGE, de Espanha.

Os paradigmas do ‘Deus Tecno’

Por Abel Martín Villarejo, advogado e diretor-geral da AISGE (Espanha)

Por detrás de cada criação há alguém que investiu tempo, talento e esforço. Se não o protegermos hoje, amanhã quem sofrerá essa desproteção serás tu.

Os criadores artísticos, em todas as suas formas, enfrentam há séculos um inimigo silencioso: a marginalização jurídica ou a invisibilidade legal. Enquanto o produto do seu trabalho criativo ocupa capas de revistas, galerias e palcos – e mesmo tendo sido o alicerce económico da rádio, da televisão, do cinema e das atuais plataformas digitais – os seus direitos permanecem frequentemente em segundo plano, sujeitos a interpretações variáveis, lacunas legais ou interesses económicos dominantes.

Hoje, mais do que nunca, informar sobre a realidade legislativa, contratual e o impacto dos avanços tecnológicos sobre o trabalho criativo e as suas formas de exploração não deve ser encarado como um exercício académico, teórico ou especulativo, mas sim como uma verdadeira necessidade social, cultural, económica e democrática. Em suma, como um ato de justiça e de responsabilidade.

O desconhecimento, as crenças mal formadas e os interesses espúrios contribuem para o estado de confusão social, política e institucional que atravessa o setor cultural, onde o coletivo artístico é protagonista principal. Por tudo isto, é fundamental que o próprio artista-criador tome consciência do seu estatuto social e cultural, da sua realidade jurídica, e de que a luta pelos seus direitos – laborais, de propriedade intelectual, de imagem e direitos fundamentais – é a única garantia viável do seu trabalho e do seu reconhecimento futuro.

Encontramo-nos, de facto, numa fase evolutiva de profunda e vertiginosa transformação. A irrupção da Inteligência Artificial (IA), sobretudo da IA generativa; o desenvolvimento das plataformas digitais; os deepfakes e a circulação massiva de conteúdos visuais e sonoros estão a reconfigurar não apenas a forma como se cria arte, mas também como ela é explorada, distorcida e apropriada.

Neste novo cenário, o direito de autor e o direito de imagem são as primeiras linhas da frente onde se travam batalhas. Mas o direito de autor – ou, de forma mais ampla, a propriedade intelectual – carece, há décadas, de uma atualização substancial que permita responder eficazmente à nova realidade tecnológica. Os fundamentos e dogmas do direito de autor e do copyright remontam ao século XIX, e vivem hoje de costas voltadas para a tecnologia contemporânea e para as dinâmicas do mercado de conteúdos culturais, especialmente os audiovisuais.

Uma estratégia para o futuro

Com instrumentos jurídicos tão frágeis e obsoletos, é impossível enfrentar os desafios colocados pela IA e por outras tecnologias disruptivas de última geração. Na nossa modesta opinião, a estratégia de futuro deverá passar, pelo menos, pelas seguintes linhas de ação:

  1. fomentar, por parte dos próprios criadores, uma consciência ativa de defesa das suas criações e do valor do seu esforço e criatividade;
  2. atualizar a propriedade intelectual como sistema jurídico eficaz de proteção da criatividade humana;
  3. desenvolver novas fórmulas jurídicas para proteger os conteúdos gerados autonomamente, sem intervenção humana, por inteligência artificial. A tendência atual de abarcar todo o tipo de criatividade – como num saco sem fundo – sob o conceito de propriedade intelectual é, desde logo, um erro de base.

Várias batalhas vêm sendo travadas nas últimas duas décadas e em múltiplos níveis. Mas, com meios de defesa grosseiramente desiguais, a comunidade criativa enfrenta os grandes conglomerados tecnológicos multinacionais. E nesta luta desequilibrada, a parte mais poderosa já seduziu a sociedade civil com ofertas baratas, gratuitidade inicial e vantagens aparentemente insuperáveis.

A cidadania não se apercebe (e, em parte, os artistas também não) de que o caminho iniciado nos conduz ao fracasso da nossa civilização: cultura e entretenimento confundem-se; a arte deixa de estimular o pensamento crítico; deixaremos morrer as democracias por comodismo ou impotência; e, quando quisermos reagir, poderá já ser demasiado tarde.

Este pequeno espaço de reflexão sobre tecnologia e direito é apenas mais um grão de areia com o qual procuramos alertar, propor ideias e informar sobre como se poderá construir um futuro de convivência em paz e harmonia. Porque sem justiça não há paz nem futuro. E sem soluções justas, a própria indústria cultural destruirá os modelos de negócio que a sustentam – e ruirá, como ruíram as torres mais altas.

Progresso e trabalho alheio

Atualmente, os lobbies mais agressivos e influentes do “Deus Tecno” estão a promover reformas legislativas em vários centros de poder mundiais, com o objetivo de legitimar a apropriação de trabalho alheio, mesmo contra o interesse público. O paradigma económico, social, cultural, político e geopolítico está a mudar, sob o olhar atento, perplexo e impotente de todos nós.

Em Bruxelas, por exemplo, estão a ser consideradas iniciativas que poderão alterar profundamente a forma como as plataformas usam conteúdos protegidos. Ignoram-se as implicações do treino de modelos de linguagem e de geração de imagens com materiais que incluem vozes, estilos e rostos de artistas vivos. Quando se fala em “progresso tecnológico”, omite-se muitas vezes que esse progresso se alimenta do trabalho de outrem – do trabalho dos artistas. E que raramente há compensação ou reconhecimento justo.

Importa, pois, colocar nos seus devidos termos a tensão entre direito e tecnologia. Ninguém contesta os benefícios dos avanços tecnológicos na vida quotidiana, na ciência, na economia e até na cultura. A tecnologia tem sido, até hoje, aliada da criatividade – não inimiga. Mas a confluência de tantas circunstâncias adversas começa a gerar efeitos colaterais nocivos (como o impacto sobre o trabalho de atores de voz, designers, escritores, etc.) que colocam em risco todo o tecido económico e cultural.

Daí a urgência de abrir esta janela de comunicação. Vivemos rodeados de arte e de tecnologia e, todos os dias, usufruímos de ambas sem nos interrogarmos sobre o que está por trás: quem são os detentores de direitos, como esses direitos são geridos e se estão a ser respeitados.

Muitas vezes partimos do princípio de que a criatividade é livre e gratuita, como se brotasse espontaneamente de uma fonte comum – ou como cogumelos no bosque. Mas não é assim: por trás de cada criação há alguém que investiu tempo, talento e esforço. E esse investimento merece proteção adequada e digna.

Não podemos aceitar que só beneficiem desse processo aqueles que nada contribuem para a criatividade, com o argumento demagógico de que tal serve também o interesse dos cidadãos. Os cidadãos devem compreender que nada é gratuito — tudo tem um valor intrínseco, de que alguém se apropria. E que, se não respeitarmos o esforço e os direitos dos outros, também o nosso deixará de ser respeitado.

Um problema de vontade política

O direito de autor, que durante séculos protegeu os criadores contra a exploração, está hoje a ser posto à prova como nunca. As legislações nacionais tentam adaptar-se, com maior ou menor sucesso, a um contexto global e digital onde os conteúdos são carregados, editados, copiados e monetizados em segundos. O problema não é apenas técnico — é de vontade política: se não se legisla com conhecimento do mundo criativo, corre-se o risco de favorecer os grandes operadores tecnológicos em detrimento dos autores individuais.

Tão importante como o direito de autor é o direito de imagem, frequentemente esquecido nos debates sobre propriedade intelectual. O rosto, a voz, os gestos de um artista fazem parte da sua identidade, da sua marca e do seu percurso. E hoje, essas identidades podem ser recriadas digitalmente com fidelidade inquietante. A tecnologia permite clonar vozes, gerar vídeos hiper-realistas, criar avatares falsos. Que acontece quando a imagem de um ator é usada sem consentimento para publicitar um produto? Ou quando uma voz artificial canta ao estilo de um cantor real?

Em muitos países, o direito de imagem não tem regulamentação clara ou específica. Em Espanha, por exemplo, é reconhecido como parte do direito ao bom nome, à intimidade e à própria imagem (Lei Orgânica 1/1982), mas a jurisprudência ainda está a construir critérios sólidos para lidar com casos envolvendo IA, redes sociais ou réplicas digitais. Isto gera insegurança jurídica para os artistas. E, pior ainda, um vazio normativo que os deixa indefesos face a práticas abusivas.

Informar em meios acessíveis e plurais

Daí a importância de informar. E não apenas em fóruns especializados, mas em meios acessíveis e plurais, onde os artistas possam compreender o que está a mudar – e como isso os afeta. Porque uma lei que não se conhece é uma lei que não protege. E num contexto onde a inovação avança mais depressa que o Diário da República, essa distância pode ser fatal para o criador.

Queremos fazer a ponte entre a lei e a vida artística – entre os textos legislativos, as relações contratuais e a prática quotidiana de quem vive do seu trabalho criativo, do seu estilo, da sua imagem.

Informar é empoderar. E, neste momento de transição, os artistas precisam de ferramentas, conhecimento e redes. Não podemos permitir que as mudanças legislativas passem despercebidas, nem que o discurso sobre a tecnologia se imponha sem um olhar crítico da cultura. Defender a arte não é um luxo: é uma tarefa coletiva, um ato de responsabilidade. E começa pelo conhecimento da realidade tecnológica e jurídica – e dos seus efeitos, presentes e futuros. A informação verdadeira e o conhecimento são a melhor garantia de um futuro mais justo.


Abel Martín Villarejo é advogado e diretor-geral da AISGE – Sociedad de Gestión de Artistas Intérpretes o Ejecutantes de España, entidade que representa essencialmente atores, bailarinos, dobradores e diretores de cena no setor audiovisual. A sua longa experiência na defesa dos direitos dos artistas, tanto no plano jurídico como institucional, confere autoridade à reflexão que aqui partilha e que foi originalmente publicada no boletim semanal da AISGE.