Carlos do Carmo
1939-2021
O novo ano começou por levar-nos uma das figuras maiores da nossa moderna cultura popular.
A personalidade artística de Carlos do Carmo, fortemente ancorada na tradição, manteve-se sempre aberta ao contacto e diálogo com os mais variados géneros e estilos musicais, do tradicional ao music-hall, do jazz ao erudito, abrindo o universo do Fado ao mundo e à diversidade criativa. O seu rigoroso carinho pela palavra – de que a irrepreensível dicção era apenas a face visível – logrou trazer igualmente para a nossa Canção nomes maiores da poesia e da literatura, ao longo de uma discografia de quase seis décadas de intenso trabalho.
E era um Amigo também.
Homem da cidade, do país e do mundo, homem de princípios e ideais, sabia com humildade que os debates, confrontos e causas são menos para os poucos que gozam de fama e sucesso e muito mais para os tantos que quotidianamente labutam pelas artes e cultura.
A comunidade artística e os membros da GDA têm para com o Carlos do Carmo uma grande dívida de gratidão, porquanto nunca hesitou em colocar o seu nome, prestígio e influência ao serviço da causa comum em sucessivos momentos-chave, politicamente determinantes para as artes e indústrias culturais. Com o seu mister e experiência foi curiosamente dos primeiros a intuir e preocupar-se com a exclusão negocial e a sub-remuneração dos artistas, intérpretes e executantes, que começava a ocorrer e a crescer com a deslocação do mercado analógico para o digital. Que falta e que saudade vamos sentir daquele jeito pausado e ponderado com que, depois de ouvir razões e de um curto silencio, dizia simplesmente “…huumm…deixa-me fazer uns telefonemas…”
Obrigado pelo enorme e solidário Artista que foste!
Até breve Carlos
Pedro Wallenstein,
Presidente da GDA